Mulheres iranianas driblam as próprias leis do país em busca de liberdade
- Juliana Cini
- Jan 28, 2017
- 3 min read
Em busca de mais liberdade e autonomia, as jovens do Irã lutam por liberdade diante de leis rígidas que, por vezes, não são respeitas

Em palestra na Universidade Mackenzie, Adriana Carranca, renomada jornalista que cobre assuntos internacionais, mais especificamente sobre Oriente Médio, esteve presente para contar suas experiências ao redor do mundo e suas visões sobre a religião islâmica. A questão da mulher foi analisada como libertadora no Irã, em que, aos olhos da sociedade, as mulheres devem se portar de acordo com as próprias leis que regem seus costumes e religião, mas, por vezes, essa legislação é desrespeitada, em favorecimento da liberdade pessoal.
Os estereótipos disseminados pela mídia sobre os muçulmanos, com leis severas, pessoas oprimidas e sem iniciativa não dialogam com o que, de fato, acontece em meio aos jovens iranianos. “Quando cheguei no irã encontrei uma menina de calça jeans, de All Star cor de rosa, com um véu que mal cobria o cabelo e com uma batinha. Ela me perguntou, ‘Por que você está vestida desse jeito? ’. As iranianas são muito modernas, aí ela tirou meu véu, colocou para trás e fomos para o centro de Teerã. Ela estava dirigindo, com o próprio carro, ouvindo um funk iraniano. A imagem que eu tinha do Irã era de um país destruído por causa da guerra, opressor, o que começou a se desconstruir ali”, conta Adriana.
Considerada uma cidade com pessoas civilizadas, com uma cultura rica e uma das áreas mais desenvolvidos da região, as leis da nação não dialogam com o progresso adquirido. “O que eu encontrei foi um país super desenvolvido, com uma cultura rica, o antigo império persa. Eles são muito intelectualizados e politizados”, acrescenta.
Apesar da obrigatoriedade do uso do véu em locais públicos e do comportamento adequado às leis da nação, as regras nem sempre são respeitadas. Festas são típicas entre os jovens em Teerã, o que é algo considerado proibido. “Eles vão às festas. Encontrei uma menina em uma loja, ela era designer de interiores, a vi com um vestido curto vermelho, perguntei onde ela ia com o vestido, já sabendo que eles se vestem mais discretamente. Ela já tinha ido para delegacia várias vezes porque, no Irã, tem a polícia da moral que fica atrás dos jovens para ver como se vestem. Porém os jovens acabam quebrando as regras o tempo todo e acham engraçado, vão para delegacia, tiram o sarro dos policiais, enchem o saco deles e fazem o que todos os jovens fazem em qualquer lugar”, relata Adriana.
Por conta da religião, é proibido ingerir bebidas alcoólicas e fazer festas, porém foram encontradas maneiras de camuflar essas práticas em prol da diversão dos jovens. “Em festas fechadas, as meninas chegam todas cobertinhas e quando elas passam pelas portas, vão tirando as roupas e vão direto para um quarto, onde vão se maquiar, arrumar o cabelo. Não existem festas em lugares público, então elas acontecem particularmente em apartamentos. Divulgadas por celular, eles chamam por um outro nome que todo mundo já sabe o que é. Eles não têm bebidas, mas existe um delivery, o Disque-Armênia, que vende bebidas. Os donos são armênios e, como eles são cristãos, por lei, podem consumir álcool. Quando chegam, em cima tem um pacote de verdura de supermercado e, em baixo, estão as bebidas, latas e garrafas de cerveja, vinho”, conta.
O ato de se manifestar, considerado também proibido, acontece de um jeito curioso, por meio de protesto silencioso. Entre as mulheres, essa ação é avaliada como um pedido de liberdade. “Elas fazem protesto de qualquer jeito, o tempo todo, só que elas mudam a forma. Quando eu estava lá, elas faziam um protesto que todos os dias, ao meio dia, todas as mulheres paravam onde quer que elas estivessem por um minuto, mesmo se elas estivessem na rua, no carro também, ficavam sem dirigir e faziam um super transito. Era um protesto silencioso por mais liberdade”, finaliza.
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